AMIGOS QUE ME SEGUEM

EU O MUNDO, O MUNDO E EU

30 de novembro de 2009

MANIAS

in voz; José Silveira MP3

Tenho mania de curar
curo meus porres sozinho
...chego e logo preparo um drink;

gelo, suco de tomate,
bastante cachaça, e sal.
mas sem abusar dele,
pois dá hipertensão arterial.



Tenho mania de manhãs,

não consigo abraçá-las sóbrio,
mas saúdo-as com prazer,
entre os raios de sol anunciados.

Tenho mania de família,

mas só me lembro,
na hora em que chego a casa,

aquele lugar...
que eu nunca sou lembrado,
e que muitos chamam de lar,

o meu...
lar caído,
mais parece um pardieiro,
manicômio,
um puteiro
que, aliás, até mais família é.

Tenho mania de loucura,

ultimamente,
faço muitas confusões;

botequim com igreja,
poema com loucura,
patíbulo com pódio.
noite com dia,
deus com diabo,
amor com ódio,
ócio com luta,
noite com dia,
anjo com puta,
sexo com nexo.
côncavo?!...
convexo?!...

Tenho mania de boemia,

viciada,
minha alma vive por aí,
com outras almas
também perdidas
nas sarjetas da lua,
nas sombras das ruas
cheias de manias.

Ontem mesmo
vi-me falando com a garrafa,
disse a ela na intimidade
que não saberia viver sem a bebida,
que só ela me entendia.

E ela me respondeu,

que é raro ter quem te acolha
e prepare o drink de manhã.

disse-me mais;
que estávamos perdidos,
e que só a poesia tinha piedade de nós.

sorri... simplesmente.

Tenho mania de morte,

aí eu faço uma canção,
morro...
depois ressuscito.
esqueço,
esqueço...
que tenho mania de mania.

como agora... mania de poesia!...

28 de novembro de 2009

INVISÍVEL



in voz; José Silveira MP3
http://www.clesioboeira.com/meump3/CDST-invisivel.mp3

O poema
caminhava
pela avenida
congestionada.

Seguia calmo
naquela manhã
ensolarada.

Brisa fresca
batendo no rosto,
mar azul,
água de coco,
jardins floridos.

Gentes,
entremeavam
num ir e vir
desnorteado.

Sereno;
acenou.
sorriu.
chorou.

Invisível...

Esbravejou,
irritou-se,
desnudou-se,
desistiu,
e já sem fôlego...

Inerte;
caiu.

Gentes,
ainda naquele
irritante
vir e ir
desenfreado.

Passavam.
Tropeçavam.
Desviavam,
e seguiam...

Ninguém
percebia...

Que ali,
ao risco de morte,
caído,
jaziam;

o poema,
de mãos dadas
com a última poesia
do dia.

25 de novembro de 2009

DESÍGNIO?...



in voz; José Silveira MP3
http://www.clesioboeira.com/meump3/CDST-designio.mp3

Ela caminhou entre as brumas.
No ventre, um feto, translúcido,
ainda sem alma,
sangue,
músculos,
ossos,
nada.
Apenas fluido, um querer ser, ser.

Era feito de sonhos,
de fantasmas,
de dores,
de aço
à luz do sol refletido.

De prisma
inanimado.
Cristal
multicolorido,
semiprecioso.
Lapidado.

A mulher descansa seus pés nas nuvens.
Entre suas coxas, um ser, um choro.
uma luz...
Aura resplandecente,
Corpo e alma.
Vida própria que reluz.

Ser, amado.
Um filho.
Iluminado,

desígnio de Deus?...

Deu-lhe um pranto que não pára,
a mãe debruçada sobre o mármore frio,
onde suas lágrimas de sangue coagularam.

Nas mãos, dor, desesperança de justiça.
Tarde!...
Não mais cala o estampido,
não retrocede o projétil
da direção sem sentido.

Nem o grito, nem o gemido.

Um corpo caído
ferido de morte.

Um choro sentido,
um choro sentido...

Um cristal quebrado,
lume apagado,
um menino morto.

Um olhar perdido,
um olhar perdido...

24 de novembro de 2009

CANTO SOLITÁRIO



in voz; José Silveira
http://www.clesioboeira.com/meump3/CDST-canto-solitario.mp3

Entre o brilho das bordas
dos castelos prateados,
onde brancas nuvens dançam,
pousadas nas pedras
negras da montanha,
de sopé com cerração.

Meus olhos viram.

Raios fantasmagóricos
rasgando o céu,
rompendo em esplendores
dourados de sol,
morno e sonolento.

Era manhã e choveu.

Na mata alta, ainda era breu,
havia o verde na penumbra
e o chilrear da passarada
e o canto do Bem-te-vi.
Sempre ele, o Bem-te-vi.

Bem-te-vi... Bem-te-vi...

E o sol deslizou manhoso.
Da mata breu, o verde nasceu,
verde molhado porque choveu.
Choveu, molhou, inda assim coloriu,
coloriu depois que amanheceu.

Sorriso de pouco tempo

O sol cresceu, o sol cresceu,
secando o verde da mata breu,
morreu, e a passarada morreu,
morreu toda a passarada
na terra que não mais choveu.

Sofri, sofri, quanto sofri!

Pois a seca não cedeu.
Só mais longe é que choveu,
voltou o verde da mata breu,
não voltou a passarada.
Mas um canto me fez sorrir.

Ele voltou.
Não morreu.

O Bem-te-vi.

Bem-te-vi... Bem-te-vi...

23 de novembro de 2009

O SABIÁ SABIA ASSOBIAR


in voz; José Silveira
http://www.clesioboeira.com/meump3/CDST-o-sabia-sabia-assobiar.mp3

Curumim de olhar miúdo,
esverdeou
dentro da mata
cerrada.

Raios de sol
filtravam multicoloridos
entre as folhas e galhos
do tutor centenário.

Visão fantasmagórica
da natureza incólume.
Um mundo verde,
palco do imenso teatro.

Reino fábula ou verdade,
do Saci,
do Curupira,
e da Iara.

Apagados.

De lá,
junto aos trinos,
eu ouvi essas histórias,
e não me sai da lembrança
desde que eu era menino.

Previa-se o fim do verde...
Eu sabia...
Eu sabia que o sabiá sabia assobiar.

Aí...
Ouvi um canto de lamento,
vindo da floresta devastada.

18 de novembro de 2009

IMPERFEIÇÕES


in voz; José Silveira


Na, minh’alma
submersa...
esconde um ser, sem retrato
se faz indefinido esse traço,
ora translúcido, ora opaco.

Na, minh’alma
dispersa...
habita um ser, displicente
desdenha, deserta e mente
sempre que preciso de mim.

Na, minh’alma
há loucura...
regurgito-a na voz rouca,
sufoca-me quando declamo,
impedindo que ela me ouça.

Na, minh’alma
impura...
transbordante de candura,
germina poesia, bem regada,
que escorre pelas sarjetas da lua.

Na, minh’alma
vagabunda...
descobri que há um ser que ama,
que sabe do amor toda a trama,
e de onde tudo oriunda.

Na, minh’alma
cedente...
habita um ser, que quer ser selva,
na imperfeição, é simples relva,
e basta, pra que tu não pises no chão.

Na, minh’alma
há emoções...
aliás; é a única coisa
em mim impregnada,
com algumas perfeições.

16 de novembro de 2009

OUTRO INDIGENTE


in voz; José Silveira
http://www.clesioboeira.com/meump3/CDST-%20outro%20indigente.mp3

Murmúrios
da fome.
Palavras nulas.
Sem travessão,
sem interrogação,
sem exclamação,
vírgula...
Com ponto final.
Palavras
emudecidas.
Apenas
um olhar,
driblando-as.
a do Retirante
cambaleante.
Sem prumo,
sem rumo,
Arrastando,
o que lhe resta.
Na fresta da vida,
na sarjeta.
cai.
Sobre o ombro,
o peso do olhar,
extático.
Olhar refletido,
na vitrine
do bar,
no mar.
Por passantes;
é pisado,
cuspido,
humilhado.
um corpo;
alheio,
inerte,
caído.
Óbito refletido
na vitrine do bar,
refletindo...
um morto,
velado
pela brisa
do mar.

13 de novembro de 2009

RASCUNHOS DE MIM





in voz; José Silveira


Há aqui, um cesto de papéis,
Do lado da minha escrivaninha.
Há bolas disformes, amassadas,
Lixo das idéias minhas.

E em cima da mesa, há,
Lápis, canetas e uns tinteiros,
Folhas alvas abandonadas, e é só.
Nada mais que seja alvissareiro.

Há um poeta aqui sentado,
Nesta fria cadeira giratória,
Tentando fazer um retrospecto
Do que é sua vida, sua história.

Olho para o cesto de papéis,
Bem ao lado da minha escrivaninha.
As bolas amassadas, aqui estão.
Meus restos recusados de memória

O poeta está só, sinto-me só,
Fugiu de mim, até a poesia.
Sou como as folhas amassadas,
Agora sem nenhuma serventia.

11 de novembro de 2009

GOSTO DO GOSTO DA SAUDADE

in voz: José Silveira
http://www.clesioboeira.com/meump3/CDST-gosto%20do%20gosto%20da%20saudade.mp3




Tempos de menino.


Desconhecia as diferenças,

dos perigos espreitados da vida.

Mas talvez não as demências,

das ralhas dos velhos da família

Se é que velhos seriam!

Pois hoje sei o que é ser;

avô, avó, tio e tia.


Mãe e pai.


Piamente acreditava,

[ainda acredito]

Que nunca envelheceriam.

Para sempre; santas e heróis

Sendo assim; velhos jamais.


Mais os farrapos do baú

ficaram a mostra.

Não senti,

mas o tempo havia passado.

Moveu a roda da mó,

e o riacho o moinho,

que movia o monjolo

dia e noite, noite e dia.

para pilar o café

fazendo canjica quebrada

'pros passarinhos bicar'.


Ah! cheiro bom...

Perfumando a pradaria.


Passa aqui,

um filme na minha cabeça.


O carro de boi na estrada,

rangendo a roda ao vento.

Um canto, mais um lamento

ecoando na minha terra,

chão pisado de boiada,

barro ocre lamacento.


Liga não, dessa voz embargada.

É que a noite vem calada


e de chorar, dá vontade.


gosto do gosto da saudade,

do brilho nos olhos que isso traz.

Gosto do alumiar dos pirilampos

nos campos férteis da memória.

gosto de gostar disso,

de ser velho,

de tomar essa atitude,

dar adeus a juventude...

E ficar pra outra história.

8 de novembro de 2009

ENFIM, AMANHECEU

in voz; José Silveira
http://www.clesioboeira.com/meump3/CDST-enfim,%20amanheceu.mp3




É de manhã.


Respiro fundo.

Abro a janela

sorrateiramente.

Aproveito e;

revivo

meus pensamentos.

Os obscuros.

Tento

apagá-los.

Se,

da vida.

Se,

da morte.

Se,

do sonho,

Se,

da realidade.

Não importa.

Conseguirei.

Não

lembrarei mais.

Mas arrepio-me

do voltar

da noite.

Quando eu...

Percorro

o imenso

retângulo.

A cama.

E faço do

travesseiro

meu

confessor.

E choro

de amor.

ADÔNIS



in voz; José Silveira
http://www.clesioboeira.com/meump3/CDST-adonis.mp3

Acorda.

Da janela,

bela manhã.

Sol brilhante,

moldura celeste.

Levanta-se.

Barbeia-se.

Perfuma-se.

Veste-se

do seu melhor;

de azul.

Pés nus.

À mesa,

a garrafa.

Do gargalo,

o primeiro trago.

Bela manhã!

Apossa-se da pena.

Sorri.

Do cabeçalho,

em caixa alta,

segue escrevendo.

Voando errante,

além da imaginação.

O poeta elegante.

7 de novembro de 2009

TORTURADO




in voz; José Silveira 
http://www.clesioboeira.com/meump3/CDST-torturado.mp3
 
Eu,

Não sei mais quem sou.

Tenho mãos a ferro.

E entre ferros,

Pouso o meu rosto.

Covardemente imolado,

Transfigurado,

Amargurado.

Dor.

Não me incomoda mais,

É o menor dos sofrimentos.

Entrelinhas,

Esperança.

Ou melhor.

Não querer,

Esperança.

Talvez.

Nada querer,

Nem esperança.

Assim.

Fico livre de desejos.

Fico eu.

6 de novembro de 2009

POR ISSO...


in voz; José Silveira
http://www.clesioboeira.com/meump3/CDST-por-isso.mp3

Minha casa é de samba
e o terreiro é de festas
um lugar de alegria
isso é bom e bem normal
o cardápio é o de sempre
e bastante trivial
todo mundo come e bebe
e ninguém sai falando mal.

Cachaça, cerveja e bela poesia
me aquece o coração
depois tem amor, cafuné e chamego
e um tira gosto
que afasta o tal do desgosto
e libera a emoção.

Mas, eu não posso esquecer
para o samba não morrer
tenho que estar sempre aqui
pra bater o meu pandeiro
e tocar o meu tan tan
e o meu cavaco maneiro
eu vou até de manhã.

Menina, me embalo nos teus braços
no meu violão com seus traços
São vocês dois, minhas sinas.

Por isso...
eu não deixo a boemia...

‘vadeio’ na esquina,
que nem Clementina.
tirando uma onda,
de mestre Cartola.
e de Paulinho da Viola,
sou sambista.

Se; tu quiser ‘curtir’ meu samba
Chegue pra roda de bamba
Lá no fundo do quintal.

3 de setembro de 2009

O ARTÍFICE


Basta um breve e ávido olhar
em velhas e carcomidas cascas,
toscas lascas de madeira oca,
desprezadas pela mãe natureza,
atento; num salto as arrebata.

Mestre Dico, o artífice,
é o que é. pelo que faz:
Corta, raspa,talha e pinta,
pari sem dor sem gemido
mais uma peça de arte,
com tino de cirurgião.

Nas obras, projeta seus sonhos,
ilusões, poesias, pesadelos
vômitos e clamores sociais;
amores, flores, e demônios,
que surgem em tons vigorosos;
ora côncavos, ora convexos,
no contexto ou reverso,
e sem avexo. É surreal.

Com pinceladas de cores,
colori elevando a sua arte,
adereços ‘sui generis, décor’,
saem das mãos desse artista,
magicamente aperfeiçoadas,
talvez lapidadas por deuses.

(outras cascas, obras do Dico Athayde)
http://www.athaydeemcasca.blogspot.com/

27 de agosto de 2009

DELÍRIUS TREMULUS


O vento gelado
varria os grãos finos de areia.
Voavam em véus e se amontoavam,
soterrando o parco verde inativo,
ofuscando a visão.

O poeta estava lá, imóvel
aos pés das brancas dunas,
observando o vôo dos albatrozes.
Na boca; um gosto de maresia,
vindo da crespa maré da laguna.

Apenas um olhar desconfortável,
de um bêbado ao relento,
sem conseguir descongelar
a tristeza residente no coração.

Uma bela alma;
mas desgraçada,
sem recuperação,
tremulando fria ao sabor,
qual bandeira ao vento.

Alma... De nota perdida, final...
Fazia tempo que ela não mais
habitava aquele corpo,
ser de sol e sal.
Frio desafiante
do fio da navalha cortante,
inquietante sentir, calafrio,
lume morto, incessante mal.

O álcool ingerido
cortou o frio da boca,
fingiu agasalhar o corpo...
Ou o que restou dele;
um receptáculo inútil,
vazio de bem, e de mal.
O vento gelado;
e o vôo dos albatrozes
foi só um pretexto.

7 de agosto de 2009

ESPAÇO VAZIO, TU...



Senti, no seu ir quase abrupto,
o tanto que levaste de um sonho;
de palavras quase poemas,
de sorrisos quase canções,
de um mar quase oceano.

E no úmido das tuas lágrimas
que ainda estão no chão, elas,
cravadas ficaram entre as pedras,
e nas marcas dos passos teus.
A rudeza das visíveis sequelas.

Silêncio imposto, sua voz inerte,
embargada, reprimida, a sós.
Inaudível, o lamento à distância,
fazendo insípido este momento
da grande falta que sinto de vós.

Mas teu olhar é presença, é semente,
paira no ar, a candura do teu rosto,
que sustenta essa minha poesia
amenizando esse incessante canto,
desgosto que sinto; na falta que tu me faz.

Inconformado; sou desta sina,
Da momentânea clausura, casulo.
A qual tu humildemente se inclinou,
nas metamorfoses, e nas vias da vida.
Que somente as belas borboletas têm.

15 de julho de 2009

O IPÊ BRANCO QUE PLANTEI, FLORIU

Na esperança de um sonho,
de te reencontrar,
perturbadoramente,
lutei um sono arrastado
pela madrugada...

Quando quase vencido,
o teu rosto me veio
brilhando nas minhas retinas;
maneiro, repentino.
E ainda tão lindo.

Despertei,
para resgatar a lembrança
perdida de você,
meu bem querer,
paixão despida.

Fonte onde eu bebi
sofregamente
o que me oferecias
da tua pequena boca,
feita para o beijo, macio,
e com gosto de poesia.
Depois sozinho no meu canto,
o sorriso, a alegria,
a sensação de embocado
um fino cristal de taça
que abraça o vinho.

Tinto;
que aquecia o meu corpo,
para atrair o teu; pequeno,
tenro, doce, alvo e fresco
de mulherzinha... atriz,
e vulgar na cama.
Como sempre te quis,
e a desejava.
Ah! Que deliciosas ânsias,
e como te amava
nos banquetes de delícias
que me oferecias!

Mas houve o dia,
quando o meu olhar
levou comigo
o teu olhar,
e o meu corpo
partiu impregnado do teu cheiro,
do perfume de cio
sentido pela última vez
sob os lençóis de percal estampado.
No portão, implorando,
as mãos deslizaram lentamente
até o toque final dos dedos.
Perdurável?!
Ficou o aceno e o sonho.

Parece que foi ontem
que plantei o ipê branco
em frente a sua janela.
Pelo tempo dos meus cabelos grisalhos,
deve ter crescido,
frondoso, e florindo,
se vestindo de alvura, paz,
a que precisei ao te deixar.

Lembras?!
De manhã reclamavas do sol.
Ele já deve sombrear o seu quarto.
Agora...
Nem eu nem o sol,
tocamos mais a tua pele quando acordas.

Adeus...
Dormirei com o poema que um dia foi,
na vida, e no sonho que eu li.
Sim, li.

18 de junho de 2009

A ÉTICA DOS CANALHAS

Se, se deixares dominar
por essa insana e atormentada verve,
apenas para o brilho do pedestal
do seu tutor; cairás no ridículo.

Se tu se perder numa visão una,
no afã do esplendor da ribalta
que teima ficar na penumbra.
Desista...
Não haverá u’a mão no interruptor.

Afogar-se-á no próprio limo,
Desnortear-se-á no próprio limbo.
Mas sobreviverás...
junto à claque dolente.

Mas não me condene.
Não sou quem não quer o olhar,
nas atitudes mais humanas.
Reconheça-se, e renasça.

Se da infâmia
dá-se a útil convivência,
e se as escoras lhe aprazem,
e se atrais as muletas, e se atrelam a ti,
e não rejeitas;
Reveja-se...
Pois se não o escoram,
escoram-se em ti.

Aplaudem-no
enquanto
arauto servil.
Sugarão à tua sombra,
enquanto
houver insensatez,
enquanto
persistires na inércia,
enquanto
esqueceres das virtudes,
enquanto
afastares da razão.

Oh! Corja que se ufanam de inconsequentes ritos.
Oh! Amontoado de sanguessugas, de sede irrestrita.
Oh! Escória de maus que não atendem aos gritos.
Oh! Cruéis de injustos atos sob o escudo da escrita.

Maldita ética dos canalhas sobreviventes.

Oh! Malditos,
ainda individualizam-se,
vestem-se da própria pele
para reconhecerem-se.
Bastam-se, de si; bastam-se,
para alumiarem a tosca mente,
envelhecida, carcomida,
enroscada em sorrisos frouxos,
refrescando o fígado
como os fantasmas
ressuscitados
da velha escrita.

Oh! Seres.
Oh! Pobres Seres
mergulhados no barro
ressequido das velhas palavras.
Delas não se desvencilham,
arrastam-nas em versos
pré e pós aversivos
as inovações.

Lhes são demais as alvoradas.

Sabemos o que escrevem...
É cicuta.
Envenena, e envenenam-se,
não é mais paixão a poesia,
nem mais a ânsia do poema habita.

É maldade gratuita,
e que grotescamente
sob a égide da escrita,
abraçam a palavra, usam-na, e;
em gotas insistentes,
destilam abioto em doses
diárias e permanentes.

Oh! Pobres poetas e suas sutis brutalidades.
‘As palavras não morrem sorrindo’
Dementes!

4 de junho de 2009

ENSAIO DE BOEMIA


No escuro do meu quarto
tinha um bicho papão
morava dentro do armário
mas eu não tinha medo não
nem a lua, a namorada
pendurada lá no alto
que sua luz acendia.

E toda vez que me via
entrava pela janela
e no meu quarto se escondia
das estrelas com rabo de luz
que riscavam o azul da noite
bem debaixo do meu céu.

Todos na casa dormiam
menos eu e minha amada
uma lua enamorada
debruçados na sacada
esperando os cavaleiros
e também os violeiros
voltando das serenatas
no ritmo do bom tropel
meu ensaio de boemia.

Cambaleando de tonto
caindo bêbado de sono
com o luar me alumiando
quase todas madrugadas.

ENSAIO DE BRINCAR


Paro e olho para o céu
o mesmo do sol e da lua
e todo aquele vai e vem
veio trazendo a lembrança
enquanto a linha desenrola
da minha colorida pandorga,
que é pipa, que é papagaio
que também é uma seta
só que não tem rabiola.

Ta com medo tabaréu...
Minha linha é de papel...

Que bom ver a vida bailando
naquele fundo celeste
num contraste de mil cores
em pedaços de papel seda
amarrados em varetas
frações de pura alegria
do menino citadino
de coração interiorano.

Olhar atento e safado
sisudo ao desacato
bolsos cheios de gude
numa das mãos a fieira
Feita de fio de algodão
uma rodada no ar e...

Zingue... Zumm!...

Bico de prego cravando,
na terra de chão batido
até a poeira é lembrada
na emoção do tempo ido.

Roda pião!
Bambeia pião!

Finda a ilusão do menino
foi morrendo aos pedacinhos
com a lembrança moribunda
só sobreviveu a pandorga.

Olhe ela lá no céu!

Não me reconhece mais
talvez por causa tempo
passou dessas brincadeiras
que a idade já não mais
outorga.

TAPETES DO CÉU


torres de algodão
magníficas
estruturas
de ar e energia
aglomeradas
albas e fatais
tapetes do céu
traiçoeiros
pisados
por corpos desfeitos
almas fracionadas
catapultadas
no vazio
que ora jazem
no abismo do mar
gentes
pulverizadas
dos sonhos
inoxidáveis
desfeitos
no
abrupto acordar
do sono perfeito
o encontrar
eterno
da paz
depois
de um voo
imperfeito
atritado
com uma
cumulus nimbus.

21 de maio de 2009

VOZ DO MEU CORAÇÃO

Se eu te falo de amor,
É porque estou te amando.
Não um amor aventureiro,
Infantil, inconsequente.

Esses são passageiros,
Esquecidos facilmente.

Quando te falo de amor,
É com sentimento despertado,
Com o coração escancarado,
Pra te dizer sem medo.

Amo-te.

Não um, te amo,
Jogado, displicente.
E sim,

Um vou te fazer feliz.

Quando te falo do meu amor,
Não envolvo coisas materiais.
Elas influenciam negativamente,
Passa a ser, amor interesseiro.

O amor não se inventa,
Não se compra a crédito,
Mentira não o alimenta.

O amor nasce, cresce, vive,
E morre no coração.
Mantêm-se ele vivo,
Dando e recebendo amor.

Quando quero te falar de amor,
É porque quero dar,
E receber amor.

Com carinho, tolerância e confiança,
Sacrifícios e promessas verdadeiras.

Quando preciso te falar de amor,
Eu só falo de amor.


in voz, no link: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=83338

ORALGÉSICO (PALIATIVO; VIDE BULA)





Atrás de mim,
ouço vozes
lamentosas, rústicas,
amarguradas.

Tediosas demais até,
no meio de tantas flores,
colibris, amores, cupidos,
e entre os outros odores.

Não mais sei como agradar,
poetando o amor;
sorrindo a dor;
Vou me fechar em concha.

E se entreaberta for,
ainda ouvirei o marulhar,
talvez respire ar puro,
se o poema melhorar.

Quiçá inspirado,
em pedras,
na putrefação da vida,
ou na decadência social.

No amargo,
na tristeza,
no fim de toda pureza,
que a própria vida nos dá.

Assim agrado à sombra,
merece, faço-lhe as honras.
Saciada; eu retorno,
Ao meu próprio poetar.


http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=83539

PASSOS E DESCOMPASSO


num minuto...
refaço no papel os traços
acerto no caminho os passos
no chão negro do asfalto
levando comigo a poesia.

num minuto...
desvencilho-me dos laços
afasto dos meus, teus braços
a morte, eu não satisfaço
em prol da minha alegria.

num minuto...
desfruto entre os olhares
o poder absoluto da graça
rir da minha própria desgraça
ou da minha parca soberania.

num minuto...
penso ser samba, e sou
nem por isso; metido a bamba
nem ser corda ou caçamba
não sou uma letra de canção.

num minuto...
versejo com sutileza
noutro, até com brabeza
mas sem matar a beleza
do poema que se enseja.

num minuto
resoluto,
em defesa da poesia
desesperadamente luto
neste tempo inexorável
fatal, total e absoluto.

chega de versos injustiçados
jogados dentro de fundos falsos
reluto; vejo, falo não me escuto
penso livrá-los do cadafalso.

em apenas...
estes poucos minutos.


http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=79954

OLHAR CONGELADO


A morte espreita-me
por detrás da minha porta,
silenciosa, furtiva.
e tão segura está de entrar,
que sorri.

A morte espreita-me há horas,
e mais cedo
ou mais tarde
vai adentrar e,
arrebatar-me-á
envolvendo-me
com seu negro véu.

Arrastar-me-á,
e através do vórtice macabro
viajarei às profundezas.
Sei, pois não me prometeram céu
Não suplicarei. Pois não sei se há.
Mesmo assim;
não deixarei que entre ainda.
Previno-me.

Tapando as frestas
do tempo com o tempo,
acordando as não mais meninas dos olhos,
agora senis senhoras
que cochilam o tempo todo,
e sem vigília, expõe-me.

A morte espreita-me,
E eu a ela.
Tenho a lua minha amante
que também espreita-me
e afugenta a morte com o luar.

Pela veneziana da janela
vi mais uma noite passar em claro.
Vivi.
Mas o olhar... congelado.


http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=83383

21 de janeiro de 2009

P RÊ M I O _ D A R D O


Recebi este Prémio Dardos da minha muito querida poetisa Helen De Rose. Agradeço a distinção. http://helenderose-borboletas.blogspot.com

12 de janeiro de 2009

INFERNUM



Baldado
às procuras,
te achei
na imensidão,
desamor,
solidão.

Boca seca,
de saliva sangue,
sede insaciada,
é fel,
é fogo no chão.

Ressabio
de abismos,
e outras quedas,
sem vocação.

É imposto
o crucial madeiro,
que pesa.
O arrasto
não é sonho,
não é ilusão.

Carregar
o pecado
sobre
as espáduas,
maldizendo
pelo caminho
pedregoso
que o destino
deu.

Sempre
é calvário
inda que
sem dor,
breu,
e medo.

Percalço
na caminhada,
cair
não é vergonha,
só um castigo...
só mais uma cruz
no sossego.

11 de janeiro de 2009

CHEIRO DE ROÇA

Aos pés das amendoeiras,
um regato,
águas límpidas
cortando atrás do quintal
entre as pedras
e o bambuzal.

Casebre,
de pau a pique,
cobertura de sapê
dentro há,
quem se identifique;
gente pobre,
risonha.

Felicidade igual,
não se vê.

Meio dia na roça,
da tosca chaminé,
fumaça,
vem da lenha do fogão,
pra preparar o comer.

Beirando a tralha;
panelas,
bule e coador dentro,
e um chamuscado
abano de palha.

Na trempe, morna;
o que sobrou do café:
rosca, leite,
pão de milho,
e bolo de aipim.
Sobremesa pro almoço,
fartura pra todo regalo,
tirados da criação
e do roçado plantado.

Na frente,
canteiro de margaridas,
roseiras de rosas rosa,
ervas pro chá
de dormir,
tomado depois
do namoro,
logo após
de a noite vir.

Como na roça
ela vem cedo...
Cedo também
é o acordar
se não chover.

Então... Por favor
- Boa Noite!
me dão licença,
é hora de recolher.

P R Ê M I O D A R D O S

P R Ê M I O     D A R D O S
Agradeço esta distinção significativamente importante. Pelo prêmio em si, incentivador, assim como; pelo grande prazer de eu ter sido indicado a recebê-lo por iniciativa da poetisa Helen De Rose, que vê no meu trabalho, a possibilidade das minhas modestas contribuições crescerem em prol da escrita, pelos contos, prosas e poesias.

EDIÇÕES, PREMIAÇÕES

'ANTOLOGIA' - "TRAGO-TE UM SONHO NAS MÃOS"

Poesia infantil: Plum, Ploc, Trec, Blem... Viva!

Poesia infantil: Fadas meninas

Poesia infantil: O nariz do pirilampo

Temas Originais Editora - Coimbra, Portugal, 2010



ANTOLOGIA DOS 7 PECADOS

Sobre a 'GULA' : Beijo, Goiabada e queijo

ESAG - Edição BlogToh - Barcelos - Portugal, 2010




ANTOLOGIA DE POETAS BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS - 49° Volume

Poesia: Faço poesia porque eu não posso dizer que te amo

http://www.camarabrasileira.com.pc49.htm/ - Rio de Janeiro - RJ



ANTOLOGIA DE POETAS BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS – 46° Volume

Poesia: “Tango a La Rubra Rose” - 2008

www.camarabrasileira.com/pc46.htm - Rio de Janeiro - RJ



ANTOLOGIA DE POEMAS DEDICADOS Edição - 2008

Poesia: “Escrita vazia” - 2008
www.camarabrasileira.com/poemasdedicados2008.htm - Rio de Janeiro - RJ



ANTOLOGIA DE CONTOS FANTÁSTICOS -14° Volume Conto: “O mar está pra peixe, feliz Ano Novo” - 2008

www.camarabrasileira.com/contosfantasticos14.htm - Rio de Janeiro - RJ



ANTOLOGIA POÉTICA, POESIA DA METRÓPOLE

Poesia: "Comparação" - 1991


Litteris Editora - Rio de Janeiro - RJ



DECLARAÇÃO DE AMOR

'Prefácio' , 2010

Câmara Brasileira e Jovens Editores - Rio de Janeiro - RJ



EPISÓDIOS GEOMÉTRICOS (O Livro das Crônicas)

'Posfácio' , 2011

Temas Originais Editora - Coimbra - Portugal



I ENCONTRO DE ESCRITORES - ANDEF
'Palestrante', 2010
Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos

ENTREVISTAS - MENÇÃO QUALIDADE PROSA FEVEREIRO 2009

Site de Poesia

Luso-Poemas - Poemas de amor, cartas e pensamentos

Site de Poesia

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