Posso hoje entender!
Por que ele não tinha só pra si,
Dividia o pouco com os seus.
Os frutos conquistados,
O provento, o alimento,
A sua vida.
Pra isso, noite e dia, só labuta,
Pra poder sustentar,
Para ser o pilar.
Feliz, arrastou seus fardos,
Pesados demais para seu débil corpo,
Assim foi por quase um século,
Lembro-me,
Quão árduo era o seu trabalho,
Lida que o fez curvar-se, esgotado,
O corpo, porém, não a cabeça.
Disfarçava o desgaste,
Isso fazia muito bem,
Sem vaidade,
Argüido sobre sua vida,
Jogava o olhar noutro ponto,
Para tirar a atenção do fato,
Um artifício para não mostrar,
Que envelhecera rápido.
As marcas no corpo, um templo.
O semblante, cada vez mais doce,
Os males e as dores não tiraram dele,
O sorriso,
A calma,
A resignação,
A alegria.
Euforia!
Cena máxima. A família reunida.
Era prêmio. O afago de um filho.
O beijo de um neto então!,
A explosão. Um inflar de amor.
Lágrimas nos olhos?
Só pela dedicação da mulher.
Muitas coisas num único ser,
Que invejável homem!
Não dá pra esquecer nunca!
Vou lembrar daquele meu velho,
Há se vou! Sempre!
Parece que ainda ouço,
Seus passos arrastados,
Daqueles pezinhos frágeis,
Descendo os degraus do tempo,
Empunhando a bengala.
Mãos incrivelmente firmes,
Que tinham veias azuladas, e que
Serpenteavam aparentes,
Desenhando em relevo os dorsos
De suas velhas mãos,
De pele rústica, resistente e,
Rugas denunciadoras,
Fruto do exagerado manuseio.
Gravei na memória,
Antecedendo,
O meu vago olhar, no fim.
Ao perceber ser aquele o último,
Não mais que isso, mas o suficiente,
Antes vê-las sendo cruzadas,
Justapostas em definitivo.
Ato singular.
Ficou gravado em mim,
As marcas dele.
Lembranças dele.
Das linhas enrugadas no rosto,
Das veias azuis adornando suas mãos,
Do sorriso calmo, deixado.
Sinto saudade,
Daquele velho homem!
Há! Como sinto saudade!.
Por isso sorrio,
Quando sinto saudade.
Sorrio, como se sorrindo.
Com ele.
Sorrio, como se afagando.
Ele.
Sorrio, pra não esquecer.
Dele.
Sorrio, pra não chorar.
De saudade.
Daquele meu velho pai.
Do meu pai.
Meu pai.
Ó Pai!
"aqui minha poesia voa com mais liberdade"~.~.~.~.~.~.~.~.~Praia de Itaipu, Niterói- RJ - BR
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15 de agosto de 2007
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